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Foto do escritorAlexsandro Alves de Araujo

JUVENTUDE RELIGIOSA E HOMOSSEXUALIDADE: desafios para a promoção da saúde e de direitos sexuais.

Atualizado: 23 de set.

Alexsandro Araujo

 

Segundo a pesquisa, juventude religiosa e homossexualidade, a religiosidade de usuários e trabalhadores do sistema público de saúde vem interferindo, tanto nas práticas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, quanto na criação de políticas públicas voltadas à saúde reprodutiva.

Combater, não a religião, mas, a religiosidade, implica em entender que cada pessoa é uma pessoa ativa e condutora de sua biografia, e não como objeto de instintos, impulsos, ou de desejos inconformes com uma divindade. Ou seja, baseado no pensamento dos autores, há um erro comum ao se referir ao relacionamento homossexual quando se distingue a homoafetividade de uma perspectiva unicamente sexual, de sensualidade entre duas pessoas do mesmo sexo. Isso acaba reduzindo a questão da atividade sexual a uma situação instintiva, reprodutiva e animalesca. A questão de saúde nesse caso é ignorada e deixada de lado por questões ideológicas, de dogmas religiosos.

Para os autores a sexualidade é abordada de duas perspectivas distintas:

A primeira, [...] no paradigma construcionista, gênero é uma categoria de análise social e a sexualidade é concebida como uma produção da cultura, assim como acontece com a homossexualidade, e têm características específicas em cada momento histórico e contexto intersubjetivo (Paiva, 2008).

Ou seja, a heteronormatividade depende do espaço e tempo.

A segunda, [...] em oposição, o paradigma sexológico defende a natureza essencial de dois sexos distintos e noções de um desenvolvimento psicossexual universal (Paiva, 2008).

Quer dizer, o indivíduo nasce “homem” ou “mulher”. Consiste numa crença barata baseada no senso comum que é acreditar que a homossexualidade é uma questão de causa e efeito, ou seja:

A concepção da homossexualidade como doença incluía relação de causa e efeito entre “abusos” e “traumas”. (Paiva, 2008).

Dificultando, inclusive a adoção de crianças sobe a acusação de possíveis abusos sexuais. Um preconceito muito difundido por pseudos cristãos é a crença de que todos homossexual é pedófilo.

Não há dúvidas de que esta é uma comparação com pecados ‘menores’ que contrasta com outros discursos evangélicos que comparam homossexualidade à pedofilia ou zoofilia. (Paiva, 2008).

Em se referindo a religião, há uma explicação para a aceitação da homossexualidade no candomblé:

Para jovens umbandistas e do Candomblé, a aceitação da homossexualidade depende diretamente da autoridade de cada Terreiro e, menos, do dogma e prática religiosos. (Paiva, 2008).

Ou seja, depende da ancestralidade do Orixá, e do “gênero”.

A questão da sexualidade e homossexualidade entre adolescente e jovens tem se mostrado um tabu dentro de algumas religiões dando espaço para a desinformação em relação ao preconceito, comprometendo a saúde psicológica e contribuindo com a progressão de doenças sexualmente transmissíveis. A abordagem da pesquisa tem mostrado a necessidade de proteger os jovens contra a ignorância do preconceito e a necessidade de implementação de políticas públicas de saúde nesses segmentos religiosos.

A questão da homossexualidade não está bem clara em todos os segmentos religiosos, por exemplo:

Nas concepções sobre homossexualidade entre jovens católicos e religiões afro-brasileiras, observou-se uma articulação entre valores laicos e religiosos no ethos privado não confessional, (Silva, Paiva et. Ali. 2013).

Ou seja, entre jovens católicos e religiões afro-brasileiras houve uma delimitação entre o julgamento por meio de valores ligados a religião e a aceitação relacionada aos valores humanos, indicando a imprecisão das fronteiras entre o religioso e o não-religioso.

Os católicos e adeptos de religiões afro-brasileiras se mostraram mais tolerantes em relação a homossexualidade. Havendo uma imprecisão em relação as fronteiras entre, não concordar com a homossexualidade, combater o pecado e amar o pecador.

Para os pentecostais é inaceitável ser homossexual e professar a fé religiosa pois esta está diretamente relacionada a mudança de hábitos mundanos, “às coisas do mundo”.

Segundo a Silva (2013), diferente dos evangélicos pentecostais os católicos e os umbandistas, aparentemente, não tinham orientações das autoridades religiosas que abordavam diretamente a homossexualidade.

Os dados deste estudo, portanto, fortalecem o argumento de outros pesquisadores que têm ressaltado a diversidade católica e sua maior abertura a modos variados de ser católico e de relacionar-se com os valores e práticas institucionais (Martins, 2009).

A pesquisa mostrou que não podemos observar a sociedade e analisar a sexualidade e a religiosidade de uma perspectiva como se a sexualidade e a homossexualidade existissem de uma forma homogênea, ou seja, há uma infinidade de possibilidades de se abordar a sexualidade, principalmente entre os jovens cristãos.

A diversificação e o pluralismo reconhecidos na construção da identidade do sujeito sexual-religioso (com suas rupturas, deslizamentos e trajetórias singulares) só são perceptíveis quando se desloca a análise do discurso dogmático das religiões para sua realização implicada na subjetividade do indivíduo (Sanchis, 2001).

Paras os autores a preocupação com a saúde não está unicamente relacionada aos cuidados com indivíduos que são os sujeitos de direito, mas também em oferecer o acesso à informação e a serviços que possam proporcionar uma vida com mais qualidade e cuidados e que atuem na garantia dos direitos sexuais e autonomia de sua juventude.

Entende-se que a criação de políticas de públicas de saúde transcende a esfera religiosa e entra da esfera dos direitos humanos. Segundo os autores, por não estar muito bem definida em algumas religiões, o aspecto de sexualidade e homossexualidade permitem um arranjo, uma combinação, e uma interpretação de acordo com a religiosidade e com os dogmas religiosos (protestante ou do candomblé), ou seja, as variações dos arranjos efetivados por jovens dependem do contexto.

A partir do texto e dos comentario, podemos observar que os valores religiosos querem se sobrepor, na maioria das vezes, sobre as liberdades individuais e consequentemente criam uma tensão em vez de facilitar o cuidado e atenção devida para os jovens. Ignorar ou criticar a homossexualidade não faz com que ela dixe de existir. Mesmo sendo considerado como pecado aos olhos de uma determinada divindade ou sociedade, ao se ignorar a homossexualidade está se cometendo um tipo de preconceito indireto, não velado, que destrói e abandona o jovem a “própria sorte”, ao risco de doenças, por causa da falta de informação e cuidado. Todos têm o direito de viver a sua sexualidade de forma autônoma e informada, acolhida e protegida de estigma, discriminação e violência. (Silva, Paiva et. Ali. 2013).


BLIBLIOGRAFIA

 

SILVA, C.G.; PAIVA, V.; PARKER, R. Religious youth and homosexuality: challenges for promotion of health and sexual rights. Interface - Comunic., Saude, Educ., v.17, n.44,

p.103-17, jan./mar. 2013.

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