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José de Souza Martins: Uma Sociologia da Vida Cotidiana

Atualizado: há 11 horas

José de Souza Martins

Alexsandro Araújo


"Nem tudo na sociedade é visível, nem tudo o que é visível dá conta do que a sociedade é."

 

José de Souza Martins explora as intersubjetividades das interações cotidianas para compreender a vida social dos indivíduos. Ele analisa os elementos da rotina diária e como certos fatores influenciam e são simultaneamente influenciados pelas estruturas sociais mais amplas. Aspectos como trabalho, família, lazer e consumo são investigados, revelando como moldam as relações humanas e, por sua vez, são moldados por estas.

O autor enfatiza a relevância do estudo do cotidiano para entender as dinâmicas sociais (Luckmann & Berger, 2014), as relações de poder (Foucault, 2018), as formas de resistência (Merton) e os mecanismos de reprodução social (Bourdieu & Passeron, 2014). Sua abordagem crítica e reflexiva sobre a sociedade contemporânea aborda questões centrais como alienação, individualismo, desigualdade e solidariedade, evocando diálogos com clássicos da sociologia, como Marx e Durkheim.

Martins também destaca a alienação do cidadão comum diante da manipulação industrial e capitalista do consumo, muitas vezes alheio às forças que moldam seu entorno. Para ele, o fazer sociológico não deve se limitar ao uso técnico de métodos, como medição, quantificação e coleta de dados, mas sim ser uma prática que conecta pesquisa e teoria, integrando linguagem e pensamento sociológico com um estilo narrativo reflexivo e artesanal.

 

Oficina de Sociólogo

"O retorno à dialética e à sala de aula"

 

No ensaio "O retorno à dialética e à sala de aula", Martins discute a relevância da abordagem dialética tanto na prática sociológica quanto no ensino de sociologia. A dialética, enquanto método filosófico, busca compreender contradições e transformações dentro de sistemas ou fenômenos, operando por meio de uma lógica que reconstrói o pensamento ao articular tese, antítese e síntese.

Para o autor, é essencial que o professor instigue reflexões críticas, desafiando verdades estabelecidas. Ele propõe, por exemplo, reinterpretar o conceito de "anomia" como mais que uma “doença social”, apresentando-o como um desencontro entre o indivíduo e a sociedade que ele simultaneamente cria e é moldado por ela. Martins argumenta que a anomia pode ser vista como um rompimento criativo com o status quo, um desafio que ilumina dinâmicas sociais complexas.

Segundo Martins, “a consciência sociológica não pode ser expressão de prepotência teórica, mas deve emergir da pesquisa empírica, da humildade investigativa e da construção teórica fundamentada”. Ao defender o retorno à dialética no ensino, ele propõe uma sociologia dinâmica, capaz de analisar contradições internas, conflitos e transformações sociais, incentivando um pensamento crítico que transcenda explicações superficiais e unilaterais.

 

O Artesanato Intelectual na Sociologia

"Ferramentas da oficina de Lúcifer"

 

Em "Ferramentas da oficina de Lúcifer", Martins (2014) compara o trabalho do sociólogo ao do artesão, evocando a origem da palavra “arte” e sua associação histórica com habilidade criativa, mas também com preconceitos e desvalorização. O artesão, antes considerado um artista, foi transformado em operário pela lógica do capital, perdendo autonomia e intelectualidade em um contexto dominado pela produção industrial.

Martins alerta para que a sociologia, como ciência recente, não se torne uma prática mecânica e técnica de quantificação, análise e medição, negligenciando a sensibilidade necessária para interpretar as nuances da sociedade. Ele defende que o sociólogo mantenha um olhar atento às dinâmicas do cotidiano, valorizando aspectos aparentemente simples, como observado em sua pesquisa com trabalhadores de fábricas e coveiros.

Com sensibilidade, Martins identifica no conhecimento popular uma rica fonte para a sociologia. Ele descreve como coveiros conseguem perceber uma hierarquia social refletida na organização dos cemitérios: túmulos e mausoléus dos mais ricos ocupam as ruas principais, bem cuidados, enquanto os mais pobres são relegados a áreas mais afastadas e negligenciadas. Essa observação revela como a desigualdade social se manifesta até mesmo nos espaços destinados à morte.

Martins argumenta que a sociologia deve preservar a conexão entre teoria e prática, evitando uma abordagem desumanizada. O artesanato intelectual, para ele, requer profundidade, sensibilidade e rigor reflexivo, em busca de uma compreensão mais ampla e crítica da sociedade contemporânea.

 

BIBLIOGRAFIA

Martins, J. de S. (2014). Uma sociologia da vida cotidiana. São Paulo: Editora Contexto.

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