Alexsandro Araujo
A educação é institucionalizada pela sociedade e, de acordo com INGOLD (2020), muitas vezes consideramos a escola como sinônimo de educação, não reconhecemos formalmente a educação fora da escola. Por exemplo, eu não posso dizer que sou um médico e ter alguma especialização só lendo livros acadêmicos de medicina.
Por que a educação formal no Brasil é avaliada e certificada por uma instituição regulamentada pelo Ministério da Educação – MEC, e segue uma legislação, leis e normas ditadas pelo próprio ministério. Essa educação geralmente está relacionada a alguma instituição a qual pode ser, presencial, remota ou semipresencial. Para INGOLD (2020), algumas pessoas entendem a educação e escola (Instituição), como elementos inseparáveis.
A família também é considerada uma instituição e por meio dela aprendemos várias regras e normas sociais que vão moldar o nosso comportamento de acordo com as nossas culturas familiares.
Levando em consideração INGOLD (2020), sabemos que existem sociedades sem escolas e que ao associarmos escola a educação, é aceitável dizer que pessoas que não vão à escola não são pessoas “civilizadas”, “educadas”. É certo dizer que pessoas tem conhecimento, ou não, baseados na frequência escolar? Podemos dividir os povos como educado e não educados, ou civilizados e primitivos? As vezes o fazemos a partir de uma perspectiva eurocêntrica ou etnocêntrica, o que é completamente errado.
Para INGOLD (2020), a educação não é uma pratica de transmissão, nem de escolaridade, o autor cita como referência o livro de Jonh Dewey e afirma que o meio pelo qual o conhecimento é obtido é através da “atenção”. Podemos acrescentar retenção e sedimentação, Berger & Luckman (2014), todavia, podemos considerar que INGOLD (2020), se coloca contra uma posição de uma educação, a qual Paulo Freyre (2014) já mencionava, como educação bancaria. Para o autor, devemos atentar para a noção de uma educação que esteja preocupada com a continuidade da vida que vá e que exista para além dos muros da escola.
Dewey afirma que a educação vai para além de entender e replicar o que entendeu. Por exemplo, o autor cita que ao adestramos os animais, na verdade o estamos condicionando a realizar qualquer tipo de tarefa da nossa vontade, quando na verdade o que acontece não é uma aprendizagem realmente, pois o animal está interessado na recompensa e não em realizar a tarefa, ou seja, não está interessado em aprender. Para o autor, o aprender é compartilhar ideias e nessa troca tanto o professor quanto o aluno aprendem juntos. INGOLD (2020), se refere ao educar para a vida, para a continuidade da vida.
O autor trata de uma ontologia em torno da educação que vai para além de um simples “treinamento” ou “condicionamento” para responder questionários e realizar provas. Ou seja, se a educação fosse somente uma relação de transmissão todos os indivíduos e todas as pessoas agiriam da mesma forma, não teríamos diferenças de ideias, de gostos, e desejos, pensamento político e religioso diferente, etc. Temos que levar em conta o tempo e o espaço, a cultura, o que influencia na agência dos indivíduos, professor e aluno, de tempo e espaços diferentes tem percepções diferentes sobre a vida. Para Ingold (2020, Pg. 21), não pode haver educação sem um ambiente social compartilhado, o treinamento suprime a diferença.
A educação tem o dever de promover a diferença. Ou seja, para o autor, a comunidade educacional é mantida pela variação e não pela semelhança onde todos tem algo para dar precisamente por que eles não têm nada em comum. INGOLD (2020, Pg. 21). Ou seja, para o autor, a educação ultrapassa os muros da escola, é bem mais do que memorizar, educação é uma troca, educação é vida.
Bibliografia
Berger, P. L., & Luckmann, T. (2014). A construção social da realidade. Petropolis - RJ: Vozes.
FREIRE, P. (2014). PEDAGOGIA DO OPRIMIDO: Saberes necessários a pratica educativa. Rio de Janeiro - RJ: Paz e Terra .
INGOLD, Tim. (2020). Antropologia e/como educação. Petrópolis: Editora Vozes, 2020.
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